Nas pistas eles aprendem a bater metas, trabalhar em grupo e
exercer a liderança.
E aplicam tudo isso no mundo corporativo.
Há 12 anos, o então presidente da Itaú Corretora, Roberto
Nishikawa, 50 anos, reuniu todos os seus funcionários numa sala e começou a
traçar desafios para o ano seguinte. Os objetivos deveriam ser planejados mês a
mês e os resultados tinha que ser mensuráveis. Mas, em vez de cifrões e
porcentagens, as metas eram pessoais, como emagrecer 20 quilos ou aprender uma
língua.
Nishikawa comprometeu-se a completar uma maratona. Quando
começou a se preparar, ele não conseguia correr nem 4 km. Contratou uma assessoria
esportiva e cumpriu tão à risca seu planejamento que terminou os 42 km com o
tempo de 3h47’, entrando para o time dos 25% que haviam superado o desafio
proposto.
Analogias
Desde então, a corrida entrou definitivamente em sua rotina.
Além de treinar regularmente, Nishikawa passou a usar suas experiências de
corredor como analogias na liderança de seus funcionários. Algumas das
habilidades essenciais a um executivo, diz ele, são as mesmas desenvolvidas nos
treinos. “Planejamento é necessário tanto no esporte quanto no trabalho. Se eu
não me preparar nada ao longo do ano e, mesmo assim, me propuser a correr uma
maratona, terei uma lesão. Isso também se aplica às corporações”, compara.
Cinco etapas
Os treinos para a maratona ajudaram Nishikawa a traçar cinco
etapas estratégicas para a conclusão de um projeto: a definição de um objetivo,
o planejamento, a execução (segundo ele, a parte mais difícil), a comemoração
dos resultados e o desenho de novos desafios. Ele fala com a experiência de
quem teve que passar por todas estas etapas diversas vezes.
O executivo já participou de 10 maratonas, 5 Ironman 70.3 e
uma ultramaratona – com o tempo de 6h10’. Agora faz seu planejamento de longo
prazo para enfrentar os 89 km da Comrades, na África do Sul.
“Sempre é preciso aumentar a altura de barra, tanto nas
pistas quanto nos negócios”, afirma Nishikawa. Ele costuma convidar esportistas
profissionais para dar palestras para sua equipe. “Quero mostrar às pessoas que
é possível atingir objetivos na empresa mesmo que eles pareçam inatingíveis.”
No currículo
Além de determinação e planejamento, outras características
de um corredor – como obstinação e concentração – também se encaixam no
ambiente corporativo. As semelhanças são tantas que nos EUA, diretores e
presidentes que praticam corrida já largam na frente pela disputa por uma vaga.
Há até provas exclusivas para eles, como os CEO Challenges. “Lá é comum
perguntarem em entrevista de emprego se o candidato já participou de maratonas.
Fazem isso porque a prova exige habilidades gerenciais”, diz Marcos Paulo Reis,
diretor da MPR, Assessoria Esportiva, que treina equipes corporativas de 46
empresas brasileiras.
No Brasil, o esporte ainda não é diferencial no currículo,
mas os executivos têm buscado cada vez mais a superação em provas de rua.
Voltada exclusivamente para empresas, a Corporate Run começou em 2006 com 3 mil
corredores de 75 companhias. A 8ª edição, em 2012, contou com 10 mil
participantes e 400 empresas. “Cerca de 40% eram gerentes”, estima o
idealizador da prova, Anuar Tacach. Dos 940 inscritos com cargo de direção no
cadastro da Corpore, cerca de 500 eram diretores comerciais, maioria entre 39 e
48 anos.
Não por acaso, a corrida é a modalidade preferida por
presidentes de companhias brasileiras, segundo pesquisas. As competições de
Ironman estão cheias de CEOs e as inscrições se esgotam rapidamente.
As lições do vento
Cada vez que bate seu tempo numa maratona, o sócio fundador
da Nest Investimentos, Felipe Prata, 38 anos, assimila novas estratégias para
lidar com adversidades – inclusive as que surgem nos negócios. Ele completou
sua primeira prova em Chicago, em 3h50’, sob um inesperado calor de 32ºC e alta
umidade. “Só consegui porque soube segurar o ritmo no momento certo”, diz.
Prata treina até 80 km por semana antes das competições. Em Amsterdã, fez seu melhor tempo (3h08’) mesmo sob forte vento contrário. “Como corríamos com mais gente, conseguimos colocar força e fechar bem”, conta o empresário. Isso mostrou a ele a importância do trabalho em grupo.
Sócios que treinam unidos
Para Rafael Filho, diretor da empresa de TI Target Sistemas,
a corrida foi essencial para estreitar a relação com os outros dois sócios. Sob
influência de Rafael, eles começaram a treinar e hoje participam de maratonas
juntos. A última foi a de Paris. “Passamos a entrar mais em acordo, a nos
entendermos melhor e a aumentar a tolerância com nossas diferenças.”
Outros oito funcionários se juntaram ao time e o vocabulário
dos treinos foi incorporado às reuniões de trabalho. “Na rua, eles têm
indicadores, como o pace, para descobrir se será possível fazer 10 km em 40’.
Numa analogia, dá para prever se a meta individual na empresa será ou não
batida no final do ano”. Rafael também costuma usar os minutos em silêncio
entre um tiro e outro para refletir. “De vez em quando, me vêm uns insights
para a empresa”, revela. “A corrida clareia tanto as ideias que é comum voltar
ao escritório após um treino com a solução de um problema, além de ser o melhor
remédio para aliviar a pressão e o estresse ao qual nós, executivos, estamos
sempre submetidos”.
Fonte: The Finisher, março 2013