Joseph
Goebbels, ex-Ministro alemão, disse há décadas que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade“. No meu caso, repeti
tantas, mas tantas vezes aquele mesmo um quilômetro e, acreditem, sempre no
mesmo sentido horário, que isso me trouxe uma auto percepção incrível de pace e
distância. Mesmo quando corro sem relógio, sei, com precisão, qual meu ritmo e
tempo de treino.
Mas nem
tudo é conhecido por mim nessa volta de 1 km.
O que
desconheço no momento exatamente anterior ao treino é a experiência daquele
dia. Por mais conhecido que seja aquele mundo de 1 km para mim, ele me ainda surpreende.
Hoje, ao
fazer meu treino de 7 km, vivi um instante diferente em um lugar muito igual.
No sentido
oposto ao meu, caminham diariamente duas irmãs. Todos os dias em que corro ali,
no meu usual sentido horário, elas estão ali, em seu sentido anti-horário. Mas
a recíproca nem sempre é verdadeira... elas são bem mais disciplinadas que eu!
Eu e elas
nos cruzamos ao menos duas vezes a cada volta que percorro correndo. E sempre
na primeira vez que nos cruzamos a cada manhã, elas me presenteiam com um
sorridente ‘bom dia, olha ela aí’. E seguimos nos cruzando outras tantas vezes,
cada uma de nós imersa nos seus pensamentos, nos seus motivos para estar ali.
Hoje, no
meu 3º quilômetro de treino, tive que parar para amarrar o cadarço do tênis.
Nem percebi quando uma delas se aproximou de mim e disse algo como “aproveite
sua juventude! Na minha idade e da minha irmã, após os 60 anos, nossas
conversas quase que se resumem a ‘se lembra daquilo?” e a outra responde ‘não,
me esqueci’. ‘Mas se lembra do fulano?’ E a outra diz ‘também não!’ Muito
triste!”.
Ela sorriu
e se afastou. Só tive a chance de, já voltando a trotar, dizer: “O que importa
é que estão aqui enquanto vários outros estão em suas camas quentes às 6.30h da
manhã!”.
Ambas
sorriram, se despediram e seguimos nós três nos nossos mundos e, ao mesmo, naquele
mesmo mundo.
Corri os restantes
3,5 km pensando como quero chegar à idade delas com essa disposição, com essa
disciplina, com essa aparente vontade de viver e conviver.
Talvez elas
nunca saibam desse post, desse blog. Talvez elas nunca saibam que às vezes me
pego procurando-as na volta de 1 km do lago. Mas eu sempre saberei que ao menos
uma paixão nos une. E saberei também que desejo muito chegar (e passar) à idade
delas com essa visível alegria de viver que elas transparecem ter.
Minhas
vizinhas anônimas do sentido anti-horário me fizeram hoje concluir que a beleza
não está no sentido da volta de 1 km do lago. Horário ou anti-horário, a beleza
está em estar ali!No próximo post, motivado por esse, vou publicar sobre corrida e longevidade. Hoje elas me despertaram a vontade de entender mais sobre os benefícios da atividade física para os próximos anos e para os próximos muitos quilômetros!
"A vida é tão curta que só dá tempo de
morrer uma vez"
2 comentários:
Ola Rivania,
ficou muito bonito o texto, a maneira como voce descreveu uma experiencia que tinha tudo para ser imaginada por outras pessoas como uma monotona rotina, parabens!
Enquanto eu lia, surgiu para mim uma duvida: em circuitos "fechados" como o caso da sua volta, sera que nao seria indicado alternar o sentido da corrida, ora horario, ora anti-horario, para compensar eventuais desniveis, curvas acentuadas, etc? Percebi tambem que nunca fiz isso nos circuitos "fechados" que ja treinei.
Alem disso, creio que voce descobrira uma nova infinidade de coisas novas no "novo" percurso.
Bjos
É verdade, eu deveria alternar o sentido do percurso. Mas o treino emocional é tamanho, após tantos milhares de quilômetros, que eu resisto a isso.
Mas por que não tentar?! Um dia desses surpreenderei minhas vizinhas passando por elas e não mais cruzando com elas!
Obrigada,
Rivania
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