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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Planeta Corrida

Há 10 ou 15 anos, quem diria que o país do futebol presenciaria milhões de pessoas calçarem tênis e saírem correndo por aí? Nem precisa ir tão longe: em 2002, apenas 14 provas foram organizadas na cidade de SP, de acordo com a Secretaria Estadual de Esportes.

O cenário hoje é completamente diferente, com centenas de provas sendo realizadas anualmente no país e 100 mil Corredores associados a clubes de corrida. E São Paulo se firmou como o carro-chefe da "pátria de tênis". De acordo com a Federação Paulista de Atletismo (FPA), apenas na capital, em 2008, foram 372.352 corredores.

Os dados não são oficiais mas estima-se que o número de corredores no Brasil chegue a 5 milhões. Pouco, se pensarmos que o país acabou de chegar aos 190 milhões de habitantes. Mas o crescimento tem sido exponencial e dá até para sonhar com uma mesa redonda comentando a última rodada de maratonas lá para 2080!

Difícil nos compararmos com um país cujo calendário - especialmente de maratonas - é repleto de provas e onde há cerca de 700 clubes de corrida. Mas fato é que o modelo norte-americano segue uma trilha diferente do brasileiro. Nos EUA são justamente os clubes de corrida que fazem sucesso, diferentemente das assessorias esportivas comandadas por treinadores, que temos aqui.

Os clubes de corrida dão a sensação de pertencer a um time, oferecem treino especializado e contam com alguns bônus. Há os que são ligados à organização de provas (como a NY Road Runners, fundada há 50 anos, que promove a maratona de NY) e a lojas esportivas (como Track Shack e Footworks, na Flórida). As taxas anuais podem ir de 20 a mais de 100 dólares, dependendo da região e do tipo de serviço prestado.

Tendo passado há mais de 4 décadas pelo "boom" da corrida, o mercado dos EUA hoje une quantidade e qualidade. Oferece maratonas em quase todos os finais de semana enquanto no Brasil, em 2008, foram organizadas apenas 7 maratonas, concluídas por 8.056 participantes. Falta patrocínio para termos mais provas desse tipo no Brasil, sendo os organizadores das corridas, verdadeiros heróis e amantes da modalidade, pois conseguem promover as poucas maratonas que temos com recursos escassos que dispõem.

É nos detalhes que o Brasil mostra que vem desenvolvendo certas particularidades. Por aqui, o mundo da corrida está ligado a eventos grandiosos, e uma das razões talvez seja que, antes da década de 90, a grande referência de corrida para o público em geral, era a São Silvestre. A prova paulistana da virada do ano continua sendo a grande vedete das corridas no país e só não é maior em número de participantes, pelo limite imposto pela organização, mas criou em si uma associação entre "corrida" e "massa".

Uma das vantagens de se correr no Brasil, é o público. Em corridas como a São Silvestre e as maratona e meia-maratona do Rio de Janeiro, o calor humano é fantástico, incentivando fortemente o Corredor. Mas o cenário se inverte fora desses circuitos de "provas da TV". Nas maratonas no Brasil não há muita participação da população. Nas provas de 42km no exterior, há uma presença maciça da população nas ruas, principalmente em NY, Londres, Berlim, África do Sul.

Outra grande referência de corridas no mundo, são os países do oeste europeu, da Alemanha à Inglaterra. Nestes países, a procura para participar de corridas de rua tem outro sentido, puramente esportivo ou lazer, e não por qualquer tipo de modismo.

As assessorias esportivas também não têm vez por lá. É raro um Corredor pagar para receber treinamento. Isso é coisa para atletas de elite. Os Corredores amadores se informam através de revistas, fóruns na Internet e amigos mais experientes.

Economia é também a palavra de ordem nesses países. Existem cerca de 30% de corridas cujas inscrições são gratuitas, e outro tanto com taxas simbólicas de 5 euros. Corridas com taxas de inscrição acima de 10 euros são consideradas caras e são muito criticadas. E nestes países o salário mínimo gira em torno de 600 euros! Já no Brasil, as taxas de inscrição são muito mais elevadas e giram em torno de 50 a 150 reais.

E incentivo é o que não falta para praticar qualquer esporte nesses países. A grande maioria das cidades, pequenas ou grandes, tem seu clube de atletismo ou ciclismo subsidiado pelo Governo e seu poliesportivo, com atividades a custos muito baixos. Assim, fazer esporte tem um fim em si mesmo, sem a necessidade de ligar-se aos eventos de massa, como no Brasil.

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