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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

42K em sonho

Eu confesso que voltei atrás em uma decisão. Aliás, há algum tempo eu deveria ter confessado isso aqui...

Difícil pra mim voltar atrás. Não por orgulho, mas pela convicção no momento da tomada de decisão. Em geral sou assim. Volto pouco atrás nas minhas deciões, principalmente as pessoais, pois, em geral, estou absolutamente convicta sobre elas. E eu estava convicta que em 2012 correria uma maratona. Postei sobre isso neste blog em 2011.

Mas eu voltei atrás. As circunstâncias e um grande zelo (talvez excesso de zelo) com minha longevidade na corrida, me fizeram voltar atrás. Talvez um dia eu ainda escreva um post sobre isso.

Mas tenho um amigo que não voltou atrás! Tomamos juntos, em Setembro 2011, a decisão de correr a Maratona de Buenos Aires em 2012. Eu voltei atrás. Ele seguiu firme no plano original. Só voltou atrás sobre qual maratona correr. No caso dele, as circustâncias também mudaram e um tal de Mizuno Challenge e uma tal de Amsterdã foram tomando espaço em sua vida nos últimos 6 meses.

A história é linda. O Rodrigo é forte e determinado. Generoso e disciplinado como são Corredores em geral. Ele sonhou um sonho: o sonho da maratona condizente com o Corredor que ele é. Ele construiu esse sonho. Todo santo dia, todo santo quilômetro. Ele foi para Amsterdã e concretizou esse sonho.

A partir daqui quem conta esta história, em capítulos, é o próprio Rodrigo - o sonho, a construção e a concretização. Tudo isso me fez lembrar de algo que sempre falo para os que convivem comigo: "cuidado com o que você verdadeiramente deseja, pois a chance disso se realizar é enorme".

Rodrigo, o sonho foi nosso! Mas você, mais que eu, desejou verdadeiramente... e deu no que deu! Tenho um orgulho enorme de você e compartilho de toda sua alegria.
Mas nos conte aí como foi, meu amigo maratonista!


Como nasce um sonho – Parte 1

Foi no feriado de 7 Setembro de 2011... era uma divertida manhã entre amigos em Interlagos, e durante os 10k do GP Runners, conheci a blogueira deste blog que, em seguida, viria a se tornar uma grande amiga. E, por uma dessas felizes coincidências da vida, foi nesse dia especial que tomei uma decisão que me levaria até Amsterdam, prá realizar o que parecia um sonho distante.

Naquele dia, contando e lembrando da amarga experiência da minha estréia em maratonas em SP 2010 (que a própria Rivis reproduziu aqui: http://confissoesdeumacorredora.blogspot.com.br/2012/01/primeira-maratona-gente-nunca-esquece.html), foi que decidi que em 2012 faria uma maratona em alto nível – para os meus padrões, é claro! –, com a preparação e a dedicação que a distância merece.

O projeto inicial seria Buenos Aires, que tem se tornado uma boa opção para brasileiros que querem uma boa prova (fria e plana) sem ter que desembolsar muita grana ou dispor de um longo período para a viagem maraturística. Mas em março, lendo o blog da revista RW, me interessei pelo projeto Mizuno Challenge (www.mizunochallenge.com.br), um concurso que levaria 6 corredores prá a maratona de Amsterdam. Prá conseguir chegar lá? Era praticamente outra maratona...

Como se constrói um sonho – Parte 2

No Mizuno Challenge, competi contra cerca de 5.000 inscritos, de todo o Brasil. 30 nomes foram selecionados pelo perfil e categorizados entre corredores iniciantes, intermediários e avançados – fui inserido nesta última categoria. Os candidatos passaram por entrevistas no Rio, SP e Porto Alegre, e assim foram definidos os 18 finalistas: 2 atletas de cada categoria por cidade, sendo que ambos disputariam, em votação popular pelo Facebook, a chance de ingressar entre os 9 que fariam o treinamento de 5 meses.

Na votação, enfrentei o José Virgínio de Morais, o famoso “cabrito de Barueri”, campeão da Meia Maratona da Disney em 2012 e Tricampeão Brasileiro de Corridas de Montanha. Poderia ter dado a disputa como perdida mesmo antes de começar, mas os amigos não me deixaram esmorecer e empurraram a campanha adiante nas redes sociais. Após 10 dias de votação, venci a disputa com cerca de 1.400 votos (56% dos votos). Inacreditável, emocionante... prá mim, ali já era o auge da felicidade!

Em maio, começaram os treinamentos patrocinados pela Mizuno para os 9 finalistas. Recebemos material esportivo da marca, tivemos suporte de treinadores e nutricionistas e participamos de alguns desafios para seleção dos 6 que iriam para Amsterdam: uma prova de 10 milhas, um teste de velocidade de 3km (teste Cooper), uma prova de ritmo sem relógio, 20km subindo 10 ladeiras em sequência, um treino longo de 30k progressivos e uma prova de pista contra-relógio. Depois de todas as etapas, obtive a vaga pelo critério técnico, poupando meus amigos de nova votação no Facebook, que escolheria o 2º selecionado para Amsterdam.

Ao longo de todo o ano, o foco foi a maratona, e como bom engenheiro que sou, gosto de números... então vamos lá! (com a ajuda dos relatórios do GPS).
Em 2012, até a linha de chegada em Amsterdam foram...
- 122 atividades (entre mais de 100 treinos, 6 desafios e 7 outras provas)
- 1.520 km rodados, a uma média acima de 12km por treino
- 144 horas de treino (o equivalente a 6 dias ininterruptos correndo)
- por semana, uma média de 35k e 3,5h de treino, com picos de 65km e 6h semanais

Mas a verdade é que estes números frios não são capazes de traduzir toda a força e apoio que recebi dos amigos e família ao longo de todo o treinamento. O planejamento, o foco e a disciplina não seriam possíveis se ao meu lado não houvesse pessoas tão bacanas e especiais, que junto comigo abraçaram este sonho da maratona e que estavam ali, desde a largada em cada passada de Amsterdam...

Como se concretiza um sonho – Parte 3

Alinhado para a largada, na gélida raia 8 do Estádio Olímpico de Amsterdã, eu tentava imaginar o desafio que me esperava... mas nem a mais otimista das projeções me faria pensar na prova perfeita que estava prá ser realizada. Um sonho, que resumo assim:

Fatores externos:
- clima ideal, sem sol, temperatura de 10°C, sensação de 6 ou 7°C, na medida perfeita (o casaco voou no km2 e o manguito no km6)
- a largada é cheia, nada muito grave, mas não dá prá correr livre nos primeiros 12k; também dá uma encaixotada na ponte sobre o rio Amstel, no km 19 (de novo, nada grave - perdi uns 15 segundos).
- a volta pela borda leste do Amstel (km 20 ao 24) é mais apertada do que a ida - prá passar o pelotão dos pacers de 3h30, tive que meter o pé no cascalho e na grama
- o vento (lateral), na área rural, exigia estratégia: 90% do tempo me escondi sob os homens-muralha holandeses, no resto do tempo, dava uma refrescada no corpo.
- hidratação em copo aberto, um pouco diferente do costume no Brasil - precisa amassar a "boca" do copo prá não desperdiçar/engasgar
- música nos kms finais, para não cair a motivação
- público em 80% do trajeto (exceto área rural), com crianças oferecendo água ou com a mão estendida para um "high-five"
- e Amsterdam é plana, plana... imaginou uma panqueca? é por aí. Tá aqui: http://connect.garmin.com/activity/236320109

No aspecto Corredor (a parte mais imprevisível), parece que naquele 21 de Outubro, Murphy se escondeu do frio e não deu as caras... nada, simplesmente nada que poderia atrapalhar minha prova aconteceu:
- o posterior de coxa doeu suavemente no km 12 e assim seguiu pelos outros 30;
- o pé direito, machucado pelo cimento da pista do último desafio, doeu lá pelo 25, mas foi suportável;
- poplíteo, calcâneo, canelite e fascite ficaram no Brasil...
- as bolhas, comuns em 100% dos longos, passaram longe (concluí que são por causa do calor, e não da repetição)
- na alimentação, segui à risca a estratégia do amigo Iberê Dias, que recomendou 25g de carboidrato a cada 30 minutos; não usei sal nem tomei isotônico.

E o mais importante: a cabeça, que empurra com a mesma força que derruba, foi uma fortaleza... ao passar pelo portão do Estádio Olímpico, nos 300m iniciais de prova, foi como se eu tivesse entrado num túnel, onde eu só ouvia o som das minhas passadas e do meu corpo, como se eu estivesse sendo levado numa espécie de transe em direção ao próximo quilômetro... de tempos em tempos eu checava o ritmo no relógio, e ele quase não oscilava... esperei pelo cansaço, pelo muro, pela fadiga, pelas cãibras... nada... esperei tanto que só resolvi queimar os últimos cartuchos de energia já a 500m da chegada.

Foi quando avistei a minha esposa que com um grito de "Vai, Rô!" me deu o melhor e o pior momento da prova: me arrepiei de emoção e ao mesmo tempo o choro me impediu de respirar... uns 3 segundos de apnéia e pânico às portas do mesmo Estádio Olímpico, ali onde eu deixava o tal túnel prá cair na realidade que estava se concretizando: a tão sonhada maratona sub-3h30. A prova da minha vida!

6 comentários:

Mariana disse...

RODRIGO,
parabéns pela conquista em Amsterdam!! Fiquei emocionada com a historia e com a dificuldade para vc conseguir chegar lá.
Eu ainda sonho em fazer uma meia maratona e essas superações me motivam muito.
Agora a pergunta é: qual a proxima maratona da sua vida??
Abs.

Mariana

Thiago disse...

Rivis, eu pretendo fazer minha primeira maratona ano que vem. Meu objetivo é fazer uma meia (que já fiz antes) e uma maratona, além é claro, da minha querida São Silvestre :-)
Levanta esse ânimo, mulher. Bora tentar na próxima \o/
Parabéns ao Rodrigo pela conquista. Li seus 2 relatos e a melhora de desempenho foi impressionante. Baixar tanto o tempo em 2 anos, desde a 1ª maratona é algo pra comemorar muito.

Fernando disse...

Rodrigo,
Fantástico td isso. Na minha opinião a maratona que te fez chegar em Amsterdã foi ainda mais difícil. Parece que vc levou a prova de Amsterdã na boa mesmo!

Rivis,
E dai em voltar atras? Faz parte da vida! Teimoso é quem nao volta atras nunca. Admiração enorme pelos suas conquistas!

Anônimo disse...

Rodrigo, parabéns pela maratona!
Eu li o post da maratona de SP e você melhorou muito!
Mereceu pq treinou demais.
E agora?? Depois de fazer um tempaço desses, como são os próximos desafios?

Você e a Rivis vão encarar uma maratona juntos?? Sem pressão! rsrsrs

Luciana Aguiar

Rivania disse...

Mariana,
siga firme no plano da meia maratona! É uma distância deliciosa pra se treinar e correr.

Thiago,
show demais saber que vc vai fazer uma maratona! Quero saber dos treinos!
O Rodrigo mandou bem demais mesmo em Amsterdã, melhorou em quase 1,5 hora em pouco tempo. Realmente digno do Corredor que é.

Fernando e Luciana,
obrigada pelos comentários! Quem sabe ainda fazemos uma maratona juntos... Por enquanto sem data marcada!

Um beijo pra cada um de vocês!

Rodrigo Fonseca disse...

Mari, Thiago, Fernando e Lu: obrigado pelo carinho das palavras... acreditar em si mesmo, confiar na sua dedicação e aproveitar o carinho dos amigos: essas foram as chaves da maratona, e estarei torcendo pra que cada um de vocês concretize os seus sonhos, na corrida e na vida!

Os meus próximos desafios são fazer meu melhor tempo na meia maratona, neste domingo, em Brasília, e completar o Desafio do Pateta (21k no sábado, 42k no domingo), na Disney, em janeiro/13.

Rivis, obrigado mais uma vez pelo carinho! Você sabe que estarei sempre te apoiando nas suas decisões, e quando você precisar de um companheiro pra maratona, conte comigo. A propósito, acabei de decidir que vou tentar correr NY em 2013. Vamos?