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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Relação ganha-ganha

Este texto mostra bem como a máxima "tem que matar um leão por dia", se aplica aos atletas de corrida no Brasil. Desanimador ver a importância que o esporte, em geral, ainda não tem no país. Na minha opinião, a solução de algumas de nossas mazelas passa justamente por aí, pelo esporte. Ou poderiam ao menos serem suavizadas por ele.
Vale como conhecimento e reflexão o conteúdo do texto abaixo!



Viver de patrocínio está longe de ser uma realidade para a maioria dos Corredores brasileiros. Embora algumas marcas esportivas comecem a voltar as atenções para o mercado de running, grande parte da elite estampa marcas de patrocinadores em troca de materiais esportivos. Não há números oficiais nem pesquisas sobre o mercado, mas especialistas estimam que apenas um em cada dez atletas tenha remuneração adicional fixa. Essa quantia, quando praticada, geralmente fica em torno de R$ 1.500 mensais.

Para as empresas, o retorno do investimento se concretiza quando o consumidor associa a marca ao atleta de alto rendimento. "Performance é o que mais agrega. A marca que patrocina bons atletas, vira referência", analisa Thiago Mansur, Presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Esportivo. "Atletas precisam ter representatividade no meio para despertarem o interesse das marcas", complementa Gilberto Ratto, gerente de relações esportivas da Mizuno.

Se em esportes como futebol há fartura de potenciais astros da mídia, na corrida é o inverso. A dificuldade está no fato de que poucos atletas têm o reconhecimento do público. Por isso, os patrocinados participam de ações promocionais e do desenvolvimento dos produtos.

Vale o quanto pesa
Como em toda relação mercadológica, o retorno para o atleta é diretamente proporcional aos ganhos que ele é capaz de gerar. Essa premissa determina se é possível viver de patrocínio, prêmios ou ambos.

Um exemplo vem da maratona Maurício de Nassau, realizada em Julho 2011 no Recife, que pagou a maior premiação do Brasil neste ano: R$ 32 mil para o vencedor. Outras provas, como São Silvestre, Maratona Caixa da Cidade do RJ, Meia-Maratona Internacional do RJ, 10 Milhas Garoto (Vitória, ES) e 10km da Tribuna FM de Santos, oferecem prêmios polpudos para os padrões nacionais: R$ de 18 a 31 mil.

É nesse cenário que se estabelece um ciclo virtuoso. As provas que oferecem as maiores premiações são também as que garantem maior exposição do atleta na mídia. Por isso, despertam o interesse dos patrocinadores. Os atletas que conseguem se manter no pelotão da frente têm o direito de selecionar algumas provas-alvo. Para esse perfil de profissional da corrida, a remuneração mensal varia de R$ 5 a 10 mil, fora os prêmios em provas.

Aqueles que conseguem dar um passo além e ganhar destaque em provas no exterior potencializam seus ganhos. São casos raros, como o maratonista Marilson Gomes dos Santos e os saltadores Fabiana Murer, Jadel Gregório e Mauren Maggi, que possuem rendimentos estimados em mais de R$ 40 mil mensais. Os prêmios aumentam na mesma proporção. Um exemplo é a Maratona de NY, em que o vencedor embolsa US$ 130 mil.

Dura Realidade
Salários e prêmios recheados contemplam apenas o topo da pirâmide, o que indica que é dura a realidade dos competidores em solo nacional, onde as premiações vão mais comumente de R$ 1 a R$ 3 mil. Sem opção para planejamento de longo prazo, a solução é correr um número grande de provas.

"O nível técnico das corridas brasileiras caiu porque os atletas não têm planejamento. Precisam correr todos os fins de semana por causa dos prêmios. Eles vencem, mas não conseguem melhorar suas marcas", critica o ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, medalha de bronze na maratona olímpica de 2004, na Grécia. Ele disputou 23 maratonas em sua carreira, correndo duas (eventualmente, três) por ano.

Bônus por prova
Um meio termo entre o salário fixo e o simples fornecimento de material esportivo consiste no pagamento de bônus pelo patrocinador. "É uma forma de alinhar interesses com o atleta. A marca quer boas performances em provas porque as pessoas esperam resultados da marca", explica Joca Zappoli, gerente de Esportes da Asics. Nesse sistema, em um mês, um atleta com bom desempenho em mais de uma prova chega a ganhar até R$ 3 mil em bônus.

Fórmulas opostas
Dois modelos de atuação evidenciam que não há uma opção melhor do que a outra na comparação entre correr por prêmios ou por patrocínios. Em 2003, o paulista Adriano Bastos percebeu que vencer provas sem premiação lhe rendia boa reputação. "As pessoas me viam antes da prova e diziam: 'olha ali o cara que vai ganhar hoje'", lembra. Desde 2003, conquistou 60 títulos nacionais e internacionais, incluindo sete troféus da Maratona da Disney.

Com isso, conseguiu um grupo de 6 patrocinadores, todos com remuneração fixa. "Sou pago para correr. Meu compromisso é dar visibilidade aos meus patrocinadores", explica.

Estratégia oposta à de Bastos é adotada pela equipe Pé de Vento, grupo com sede em Petrópolis, RJ. "A sobrevivência vem das corridas que tenham premiação em dinheiro", resume Henrique Vianna, presidente e treinador da equipe, que não conta com patrocinadores. Os Corredores repassam 15% dos prêmios conquistados à Pé de Vento. Para que a fórmula funcione, os atletas precisam ser altamente competitivos, como Damião Ancelmo de Souza e Giovani dos Santos, que têm índice para o Pan-Americano de Guadalajara.

Fonte: Revista The Finisher - setembro/outubro 2011

2 comentários:

Rodrigo Fonseca disse...

Viver de corrida no Brasil é realmente prá poucos... estamos alguns anos atrasados em relação ao esporte amador, e as Olimpíadas em 2016 poderiam ser um estímulo, mas até agora pouco (ou nada) vem sendo feito. E não são poucas as estórias de atletas competitivos que precisam deixar as pistas em troca de um emprego que remunere e garanta um mínimo de sustento para suas famílias. O Adriano é um cara muito inteligente, que também contou com alguma sorte... sorte que sorri para poucos.

Julia disse...

Tambem sou apaixonada pelas corridas de rua e também acho um desperdício o país não investir mais neste esporte que é a bse de quase todos os outros.

Isso mostra a qualidade das pessoas que estão mandando no nosso país... sena federal, estadual ou municipal.

Julia