Quem sou eu

domingo, 22 de janeiro de 2012

Do fim para o começo - por Julio França


Digamos que essa é uma estória invertida, ou seja, ao invés de ter uma prova para contar, é uma estória que começou com a inspiração de uma grande amiga, e que buscarei tangibilizar o sonho durante os próximos seis meses.

Eu sempre pratiquei muito esporte: 
a) basquete dos 10 aos 25 anos
b) uma fase sedentária entre 25 e 28 anos devido ao trabalho
c) desde então, uma fase muito intensa com 10k's, meias e full maratonas, triatlos, half-iron mans, 100 milhas de bicicleta, e por aí vai. 

E sempre buscando alta performance: 
a) no basquete representava a universidade, clubes e até mesmo fui convidado a jogar a primeira divisão quando jovem
b) na corrida e triatlo, com tempos cada vez melhores, mas nada excepcional (melhor maratona em 3:45h, melhor 1/2 iron-man em 5:30h e por aí vai.

Entretanto, minha performance nunca mais foi 'brilhante' após 1996, quando eu tive uma torção do ligamento cruzado anterior esquerdo (ele se distendeu muito, embora nao tenha rompido), junto com uma cisão no menisco. Naquela época, a medicina não estava tão avançada e, na ocasião, me deram 2 opções: 
1) 'faca' ou cirurgia (reconstrução do ligamento e menisco, com um tempo de recuperação de 6-9 meses)
2) método menos agressivo, atraves de fisioterapia, musculação e natação. 

Decidi pela opção 2 e, em 6 meses, voltei à ativa, mas de longe sem a mesma confiança e performance do passado.

Bem, isso foi em 1996... Naquela época o médico, um dos grandes 'medalhões' da medicina esportiva, me disse que a solução funcionaria por muito tempo, mas que em alguns anos/décadas, a 'distensão' se agravaria e eu teria que fazer uma cirurgia.

Estamos em 2012. Escrevo esse texto de um quarto do Hospital Albert Einstein em São Paulo, onde fui operado ontem à noite. Reconstruíram o ligamento com um enxerto de tendão de minha perna, consertaram o menisco e algumas cartilagens ósseas que se danificaram ao longo do tempo. 2 horas de operação, 2 semanas de muleta, 2 meses até começar a correr novamente, alta total em 6 meses. Em 90% dos casos o paciente volta a ter 100% da performance. No meu caso isso se traduzirá em poder manter uma rotina de treinos constante, sem dores e correr 'pequenas' provas (não pretendo correr 'ultra' provas de longas distâncias).

Mas voltando ao começo do texto... Por que essa é uma estória de inspiração e contada, espero eu, de maneira inversa? Bem, primeiro, porque pretendo recuperar-me 100% para que eu volte a ter uma performance competitiva, diferentemente das limitações com que pratiquei esportes nos ultimos anos. Segundo, e muito mais importante para mim, foi a inspiração que recebi ao longo das últimas semanas, de uma pessoa que se tornou rapidamente uma grande amiga, e que por 'coincidência', tem um blog chamado 'Confissões de uma Corredora': Rivania Moreira.

Por que eu considero essa inspiração decisiva na minha virada de mesa? Primeiramente, pelo excelente blog que ela criou, com matérias sucintas, atuais e muito relevantes, para um amplo espectro de corredores e não-corredores. Além disso, um livro em especial que a Rivania me presenteou recentemente ("Operação Portuga") que me mostrou que, tecnicamente e mentalmente, meu problema é 'fichinha' comparado com outros casos de superação atlética e mental apresentados nesse livro. E por fim, porque a própria pessoa da Rivania para mim é um exemplo de virada de mesa e inspiração, prova de que com disciplina, vontade e um coração aberto para ajudar os outros, tudo é possível. 

Que fique claro aos mais céticos, o último parágrafo é realmente uma total 'encheção de bola' da Rivania, mas ela foi, sem sombra de dúvida, o grande catalisador que acendeu a chama dentro do esportista novamente.

Obviamente, tenho que agradecer à minha esposa, meus pais, meus amigos, à equipe médica pela ajuda nos últimos 6 meses, tempo entre a primeira consulta e a cirurgia ontem à noite. Agora agradeço especialmente à Fiorella, minha filha de 2,5 anos. Por que? Bem, porque ela tem acompanhado as minhas limitações esportivas, e prometeu que iria 'consertar' o joelho do 'Daddy' (meu apelido para ela). A carinha dela no quarto quando voltei da cirurgia, vale qualquer obstáculo que encontrei e ainda vou encontrar. E pensar em poder a voltar a correr, por exemplo, 10km com ela daqui a alguns anos, sem dor, por si só ja valerá todo o esforço desse mundo.

Enfim, fica aqui minha simples estória. Aos que amam esportes, mas estão meio 'quebrados' como eu, não hesitem, animem-se. Não deixem para amanhã o que pode ser resolvido hoje. No longo prazo, uma vida com privações esportivas pode trazer complicações muito maiores, física e mentalmente. 

Sucesso a todos.

Julio França
17/fev/2012

4 comentários:

Rivania disse...

Julio,
seu relato é lindo e o momento que vc escolheu pra nos contar sua história (no pós cirúrgico), é absolutamente perfeito.

Obrigada com todo o meu coração pelo seu reconhecimento! Vc só aumenta minha responsabilidade de continuar influenciando positivamente as pessoas. Quando essa pessoa é alguém brilhante, inteligente e eternamente apaixonado pelo esporte como vc, minha satisfação é gigantesca.

Vou esperar ansiosamente pelo dia que vc vai me contar que voltou a trotar e correr. Vai ser a nossa vitória!

Muito obrigada pelo carinho e reconhecimento pelo meu trabalho no blog. Escrevo para leitores queridos como vc, por isso fica bom!

Uma incrível recuperação pra vc! Grande beijo!

LG disse...

Julio,
Muito sucesso na sua recuperação. Parabens pela decisão de ter operado, as pessoas fogem disso. E aí abandonam o esporte.

Bom retorno a corrida. Abraço.

Luiz Gustavo

Ruy Barbosa Jr disse...

Oi Julio,
É impressionante este universo de "corredor".
Sempre existirá alguem inspirando ou se inspirando em alguem. E isso funciona na alegria e na tristeza e em todos os niveis.
Quantas histórias fantásticas de superação existem de atletas que venceram e alcançaram limites inacreditáveis e, quantos outros venceram pela superação das adversidades, lesões, etc... com paciência e perseverança?
Para mim, são todos igualmente vencedores e querreiros naquilo que realmente importa.
O seu relato chegou num momento em que eu estava sofrendo por ver meu projeto 2a maratona, que seria no próximo 15/abril, ir por agua abaixo devido a uma lesão que se tornou um problema muuuuito pequeno. Ler sua historia me trouxe ânimo, como você sugere ao final do seu relato, e muita inspiração.
Obrigado!
p.s Envie notícias... escreva um blog! neste caso a Rivânia pode ser uma ótima inspiração também.

Rodrigo Fonseca disse...

Li o relato do Júlio logo que foi publicado, e faltou comentar aqui... que raça! que gana por enfrentar as barreiras e encarar todos os desafios... muito inspirador!!! Torço prá que você volte logo a derreter o asfalto! Boa recuperação. Abraço.