Quem sou eu

sábado, 7 de janeiro de 2012

Um Drink no Inferno - por Rodrigo Fonseca


No domingo, 17 de Abril, 8.000 cobaias tiveram a chance de sentir na pele os efeitos retratados na reportagem da Runners World deste mês. Sobrou calor na Corrida da Ponte, uma meia maratona "esticada".
 
Quem queria praia, comemorou o bafo e a "lua" que São Pedro mandou pra São Sebastião, e aos corredores coube a missão de passar muito protetor solar, hidratar-se sem moderação e se preparar pro veranico (hein?) que passou pelo Rio durante a este final de semana.
 
Nos encontros e desencontros laranjinhas, fui de táxi com o Nishi pegar a barca na Praça XV e lá encontramos o Chester, depois vi Carino, Yeda, Edu Elias e Daniel Neves. A largada foi tranquila (o funil abria nos primeiros 200 metros, com uma avenida bem larga). A temida subida do vão central da ponte, com seus 2,0 km, nem era tão temível assim... por fim 2,5% de inclinação não eram um bicho tão feio, até porque naquela altura da prova, as pernas ainda estavam inteiras...
 
Mas falemos da sauna... contra ela tínhamos somente água e raça, e convenhamos que raça não faltava a quem havia levantado 5 da manhã prá encarar aquele forno. A organização prometia "hidratação" a cada 3 km, o que de todo não resolvia, mas ajudava muito... no km 3, 6 e 9, tudo perfeito, água em abundância, gelada, como manda o figurino. Um golinho na boca, e o resto (uns 80~90%) prá não deixar a "moleira" derreter.
 
E aí o problema foi a "semântica" (hãã???? ). Pois é, para os organizadores, água gelada, gel de carboidrato (km 12) e isotônico azul (km 15) são a mesma coisa: "hidratação". Tá bom, o isotônico até passa, mas como falei, 80~90% eram prá resfriar a cuca, então me diga, alguém aqui joga aquela meleca gosmenta ou aquele caldo doce na cabeça??? Nem eu! Resultado: do km 9 ao 18, foi como se todos os motores ficassem sem radiador, e naquele inferno, ferveram!
 
Ouvi estórias de muita gente na chegada, e todas elas tinham um ponto em comum: "comecei a perder o ritmo no km 12, e quebrei antes do km 15". Não foi por acaso... Bem, depois do isotônico, a vida ainda poderia valer a pena, e para aqueles que conseguiram alcançar com alguma dignidade o oásis do km 18 (sim, lá tinha água gelada, depois de 9km de seca), o final de prova - majoritariamente em descidas - era a última estação do calvário daquela manhã.
 
Eu pessoalmente tive uma experiência sensacional nos últimos 3km de prova, que coincidentemente ocorreu também com o amigo Chester: um outro corredor próximo a mim estava no mesmo ritmo, e assim como eu, se esforçava para mostrar que aquele esqueleto assado e maltratado pelo asfalto ainda podia render passadas um pouco mais velozes... fomos os 2 em silêncio, numa sincronia incrível, como se já nos conhecêssemos e treinássemos há anos, e ao mesmo tempo nos respeitando para não forçar demais... no barato da endorfina, e com os miolos cozidos, comecei a imaginar que seríamos quenianos, liderando um pelotão de elite, preparando a arrancada final para a consagração!
 
Ok, você me conhece, a competitividade falou mais alto nos metros finais e disparei ao som de "Smiley Faces" (Gnarls Barkley), meu "KERS" em forma de música. Mas após a chegada, fiquei esperando prá dar um abraço no amigo anônimo, e agradecer por ter dado um novo sentido àquela prova infernal, da qual eu certamente me lembrarei por muito tempo. Não consegui pensar num outro esporte que pudesse me proporcionar um momento tão inspirador. Se não amamos a corrida, que outra explicação existe prá tanto sacrifício?

Rodrigo Fonseca

Relato sobre a Meia Maratona da Ponte (Rio-Niterói) - Abril 2011
Laranjinhas = grupo de amigos Corredores que seguem o "Blog Correria" da Revista Runners World e que participam de provas Brasil afora vestidos com o "manto laranja", símbolo da Revista e Blog

5 comentários:

Edson Moraes disse...

Que depoimento, prova e raça mesmo!

E parece que não é apenas a Rivis que escreve bem não. Os amigos dela escrevem também!

Parabéns Rodrigo, foi bem divertido ler o que voce viveu la. Se importa de contar pra gente em quanto tempo voce fez a prova com essa condição dificil?

Abraços.

Rodrigo Fonseca disse...

Oi Edson, legal você ter gostado, e obrigado pelo elogio... você sabe como a Rivis é exigente, né? rsrs

A prova foi bem dura mesmo. Todos os detalhes do registro estão aqui: http://connect.garmin.com/activity/79883486

Em 2012, a prova está marcada para 20 de maio, expectativa de uma temperatura um pouco mais amena.

Abração,

Edson disse...

Valeu Rodrigo!
Mesmo nessa condição difícil vc mandou bem mesmo.
Valeu, abraçao.
Edson

Anônimo disse...

Parabens mesmo!!! Quem me dera correr forte assim e ainda debaixo dessa lua!

Corri minha primeira meia em temperatura baixa tem 2 anos e nao foi mole nao! Sem sombra e água fresca então piorou.

Me deu vontade correr outra meia. Mas no frio!! .

Karina

Ruy Barbosa Jr disse...

Eu estava lá!
Por um instante pensei em jogar o isotonico do km15 na cabeça, mas apesar o miolo torrado, a razão venceu e não me deixou realizar esta aberração.
Foi isso mesmo Frotinha. Otima percepção, excelente relato.
Faltou apenas dizer q a ponte não tinha apenas os 13k que eu acreditava ter. A ponte acaba e emenda a tal perimetral, ou seja, foram 20k de concreto e o sol como testemunha... e q sol! ...e não!!! Não tinha nenhuma arvore na ponte...nenhuma sombra!
O vento q eu achava q poderia atrapalhar no vão central foi só um devaneio.
Acho q vale a pena participar desta meia pela sua historia, tradição e pelo visual cartão postal da cidade maravilhosa.
Mas, Corrida registrada no curriculo a idéia e não voltar mais lá, a não ser....