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domingo, 29 de janeiro de 2012

A primeira maratona a gente nunca esquece - por Rodrigo Fonseca, Gerrit Dutchman e Marcel Pracidelle

Relato de 3 amigos sobre suas respectivas experiências ao concluírem a primeira maratona na cidade de São Paulo, em 02 de Maio de 2010.

Aproveitando a data... Feliz Aniversário, Rodrigo!!


Rodrigo Fonseca


Vamos engolir o orgulho e falar dos fatos. Tudo ia bem até o km 25. Não sei se foi a chegada, as pessoas parando ou muita gente que começou a andar nessa hora. Com o "tanque" cheio, também fui obrigado a fazer um pit stop, e depois disso sumiu do meu corpo o Corredor que eu pensava que era. Minha esposa me esperava no km 33, o que me deu motivação para, mesmo contra minha cabeça, não pensar em desistir. 
O Gerrit, que havia (acreditem ou não) começado mais de leve, me alcançou e fez um lanchinho comigo (até o apresentei à minha família que, incrédula, via eu me arrastando para fora da USP). Seguimos trotando e soltei o freio de mão do Gerrit pedindo a ele para seguir adiante - andei mais um pouco. Nessa hora, passa uma japonesa gritando "a dor passa, o orgulho fica!". Me apeguei ao orgulho (já estava no 35) e fui trotando. No túnel Jânio Quadros (km37), o orgulho me abandonou, e continuei somente pela "honra". 
Já no túnel do TJ (km39), deixei a honra ir embora e só fiquei com a "teimosia"... quando a teimosia ameaçava me abandonar, tive a melhor surpresa do dia: no km 41 minha esposa Flávia me esperava já aquecida, prá me puxar no último km. Foi uma chegada inesquecível e o abraço no amigo Gerrit após a linha de chegada (4h45') fez toda a experiência ter valido a pena, embora ambos concordemos que ainda não somos dignos da alcunha de "maratonista". 
Não sei o que dói mais, se as pernas ou o orgulho ferido... Dias antes da prova, eu falava que era tudo uma questão de "cabeça, hidratação, glicogênio e muita raça!". Faltou combinar com as pernas. Além disso, a falta da musculação e os longões "matados" cobraram um preço caro, mas deram uma boa estória prá contar... é isso! 



Gerrit Dutchman

Gente, hoje foi demais! Esquece o tempo final, isto não importa. Tenho 45 anos e chorei quando finalmente cruzei a linha da chegada. A emoção de terminar a primeira maratona na vida é algo incrível. Bem, Rodrigo já contou, assim como o Marcel. 
Lá fomos nos às 9 hrs de manhã. Devagar, devagar para não quebrar. 21.1km em umas 2 horas, se não me engano. Ritmo da primeira metada 5'40" por aí. Tudo, tudo, realmente tudo perfeito. Que felicidade, que festa! Tava quente? Sim, mas tinha bastante água (às vezes quente ) e levei sal, gel e no km25 fizemos o primeiro pit stop para tomar Gatorade. 
Depois do km 25 acabou ... o ritmo caiu para 6'30", sei lá, tava bem devagar, tudo doía, a barriga, as costas, pernas, pé. Encontrei o Rodrigo e bati um papo lá no km 33 com a familia e a esposa dele. Depois de uns 2 minutinhos fomos embora. Trotando, do jeito que deveria ser. O meu quadril doendo, a panturilha doendo, o joelho direito e o calcanhar chorando de dor. Quando chegamos na descida de um túnel pequeno pedi pra Rodrigo para andar um pouco, para aliviar o impacto no joelho. No ponto mais baixo começamos a correr de novo, mas foi aí que o Rodrigo pediu para eu seguir em frente. Fiquei preocupado, mas tinha muitas 'socorristas' no caminho. Lá no km 41 vi a esposa dele novamente, contei que o Rodrigo já estava chegando e segui em frente. Quando eu vi o pórtico de chegada nem acelerei. Fui corrende feito um velhinho de 80 anos, hehehehe, acho que com pace de 8min/km. Cruzei a chegada, bem longe da meta de sub 4h. Deu 4:39 mas isto foi o que menos importou. Chorei feito uma criança, de tanta emoção. Fui tomar água gelada, me recuperei um pouco e voltei para a linha de chegada para esperar o Rodrigo. Que alegria quando vi o boné cinza! Estava correndo junto com a Flavia. 
Gente, principalmente para maratonista de primeira viagem, posso dizer que correr é uma coisa, correr maratona é outra coisa. A gente corre 5k, a gente corre 10k, as vezes fazemos um longão de 15k e um dia arriscamos correr uma meia maratona. Confiante, enfrentamos a primeira maratona. Sabemos que vai ser duro, afinal é correr uma meia maratona e, sem parar, mais uma outra meia... Mas o que a gente enfrenta depois de 2,5 horas correndo não tem nada a ver com corrida. Depois de 2,5 horas começa uma luta que só com o coração podemos vencer. A velocidade é baixa, o coração deve bater tranquilamente, afinal não estamos nem correndo, estamos trotando. Tudo dói. 
Mas valeu, e como valeu! Esta vai ficar para sempre. Posso talvez, no futuro, quem sabe um dia, fazer um tempo melhor. Mas esta primeira, esta emoção vai ficar para sempre. 


Marcel Pracidelle

Cheguei, estou vivo e quase inteiro. Que emoção é correr uma maratona, o esforço de meses e um estilo de vida traduzidos em 42km. Posso afirmar com certeza que é uma prova extremamente mental, um jogo contra o nosso próprio corpo e mente. Fui ousado, talvez não devesse, era minha primeira maratona, mas achei que estava bem treinado e arrisquei, passei os primeiros 10km em 52'30" sobrando, sem sentir nada. Ritmo forte já que os 2 primeiros km foram caixote total. Passei o Gerrit e o Rodrigo na marginal, os cumprimentei e fomos em frente. O Raphael endorfina eu passei lá pelo 7 ou 8... Cruzei os 20km bem em 1'43", quer dizer, mais 10km em 51min. Sem sentir pernas nem nada. A passagem dos 30km fiz em 2'35" bem, mas minha musculatura começou a falar que estava lá. Passei os 34km em 2'57" e não posso dizer que quebrei, eu me esfacelei. Comecei a sentir caimbras em músculos que eu nem sabia que existiam, era um tal de pára, alonga, anda, trota. Pára, alonga, anda e trota. Fui firme mas o ritmo despencou totalmente, não sei se foi o calor, a falta de musculação, o ritmo puxado no início... Só voltei a correr consistentemente no 40km onde prometi para mim mesmo que não andaria mais. E assim foi. Nos últimos 500m da prova eu corri chorando e fechei em 4'05". Fiz os últimos 8km em 1:08h e não me frustrei nem um pouco. Foi na raça, na raça mesmo. 
Agora e descansar bastante e encarar Buenos Aires em outubro, se possível sem caminhadas. Posso dizer: "sou um maratonista". Abraços a todos.

11 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns aos 3!!
Um show de inspiração!!!
Pra quem entrou na pista aos 40, ver esses relatos faz apenas querer alcançar sempre mais!!
Abraços,
Andrea Bueno

Leonardo disse...

Maravilha de experiências!
Maratona é coisa pra gente corajosa mesmo. Conheço alguns maratonistas e a opinião é sempre a mesma, que maratona é outra história.

Parabéns pra vocês tres. Concordo que são total inspiração.

Leo

Anônimo disse...

Parabéns Riviana pelo primeiro aniversário do blog. Fiquei muito feliz em poder fazer parte! Gerrit

Anônimo disse...

Me desculpe ... troquei duas letras no seu nome. Bjs. Gerrit

Anônimo disse...

Gostei demais dos relatos deles.
Da pra entender facil que uma maratona pode surpreender por mais preparado que esteja a pessoa.

Sigam firme na corrida para incentivar outros! Aliás os tres dos depoimentos ja fizeram outras?

Abraço.
Renata

Ruy Barbosa Jr disse...

A maior barreira q enfrentamos e a de não acreditar que podemos. Mto bom Frotinha, Guerrit e Marcel Prefontaine.
Abs.
p.s Like a B.O. : "yes...we can!

Anônimo disse...

Me apaixonei pela maratona, este relato foi da minha primeira... a segunda em Buenos aires, 4 meses depois desta foi um sucesso, terminei inteiro, sem andar em 3:39h achei que sabia tudo de maratona... Ilusão, na seguinte, em SP 2011 uma quebra monstruosa com muitas caimbras e fechei andando em 4:23h, em outubro do ano passado fiz minha quarta maratona em Floripa, com a consciência que nunca dominarei a distância e fiz uma boa prova em 3:37h. Hoje estou me preparando para a Maratona do RJ em julho. Posso dizer com certeza que a distância é apaixonante, mas tem que ser muito respeitada!
Marcel

Rodrigo Fonseca disse...

Rivis, valeu pela homenagem... essa maratona mexe muito comigo até hoje... o Gerrit foi um como um irmão prá mim nessa prova... caímos juntos no choro na chegada!você se lembra quanto me emocionei ao te contar, e desde então nunca mais encarei os 42k. Neste ano, estou 100% focado para Buenos Aires, para exorcizar este demônio e poder dizer que sou um maratonista de fato! bjos e obrigado pelo carinho de sempre.

Paty Rebello disse...

Faço da Andrea as minhas palavras: um show de inspiração! É realmente emocionante ler os relatos deste 3 maratonistas (sim, todos maratonistas, independente do tempo). Parabéns pela determinação e superação de cada um! Boa sorte nas próximas!

Anônimo disse...

Marcel, você escreveu " Posso dizer com certeza que a distância é apaixonante, mas tem que ser muito respeitada!" Ist é uma verdade absoluta! Corridas de 10K podemos fazer todo fim de semana. E a diferença entre um dia inspirado e um dia ruim é 2 minutos no tempo final. Na maratona a diferença entre um dia bom e ruim, pode resultar em horas de sofrimento. Mas por mais que sofremos, temos que ir em frente! []s Gerrit

Rivania disse...

Lindos relatos e reconhecimentos nesses comentários!

Agradeço muito ao Rodrigo, Marcel e Gerrit por terem me deixado contar suas histórias aqui. Vocês são guerreiros da corrida e nos fizeram entender mais dessa paixão e dessa prova chamada maratona.

Um beijo!