Em 2011 o tema “Maratona”
definitivamente aterrissou na minha vida. Li e pesquisei muito sobre o assunto.
Decidi correr minha primeira maratona em 2012. E conheci vários maratonistas.
Mas a minha lista de amigos maratonistas
ainda não incluía uma mulher sequer e representava bem uma amostra do que
acontece nas maratonas mundo afora. Mais homens, menos mulheres.
Essa lista de amigos não incluía uma
mulher até eu descobrir, a alguns meses, que a Carol, uma colega de trabalho, se
preparava para a Maratona de Amsterdã que acontecerá no próximo domingo, dia
16.
A Carol corre forte. Tem no
currículo 5 anos de experiência na corrida e várias provas no currículo. Fala de seus treinos e de sua evolução com paixão e emoção à flor da
pele. E em uma dessas conversas, eu lhe fiz um convite: relatar neste blog,
como foi a preparação para sua primeira maratona. A técnica, os treinos, as
dificuldades, as descobertas. Suas sensações e alguns aprendizados.
Ela aceitou! E me disse que o texto
foi sendo montado como um quebra-cabeça nos treinos longos que fez nos últimos
meses. Essa é uma das belezas da corrida: a chance de gastar o tempo dos
treinos menos preocupados com o relógio. Mais preocupados em alinhavar informações
e sentimentos nesse precioso e solitário momento.
Carol,
O espaço é todo seu! Obrigada por dividir algo tão pessoal comigo e com meus leitores. Apenas
lembre-se que esse relato é 50% do nosso combinado. Os outros 50% você fica me
devendo para depois do dia 16!
Muita sorte, muita força, muita energia
para você no domingo! Vá com Deus que nós daqui aguardamos as boas notícias.
"Eu nunca tinha treinado
exageradamente para nada. Nunca tinha seguido à risca uma dieta. Nunca tinha
dado muita importância ao descanso. Nunca tinha aberto mão da companhia de
amigos ou família por causa de esporte. Mas sempre fui muito disciplinada. Acho
que foi isso o que fez a grande diferença na preparação para a minha primeira
maratona.
Eu sempre gostei de esporte, mas
sempre pratiquei como amadora, e nunca fui além das competições universitárias
(na época, jogava tênis). Comecei a treinar corrida há 5 anos, depois de muita
insistência dos colegas de trabalho, que participavam dos treinos de uma assessoria
esportiva patrocinada pela empresa. Meu objetivo, quando comecei, era apenas
descontrair e socializar depois do trabalho. Com o tempo, comecei a tomar gosto
pela corrida, e as provinhas (de 5 e 10km) me motivavam a continuar treinando e
melhorar. Mas ainda assim, a idéia de correr qualquer distância maior não
passava pela minha cabeça, e correr uma maratona era algo inconcebível, coisa
de gente maluca. Ainda achava que 42km era longe até para ir de carro.
A vontade de correr a minha primeira
meia maratona surgiu de uma hora para outra, num estalo, sem pensar muito (eu
treinava há 2 anos e meio). Corri a meia do Rio em 2008, e gostei tanto que
depois corri mais 3 vezes a mesma prova.
A decisão de correr a maratona foi
mais pensada, mais difícil de amadurecer. Mas depois que decidi, fui bastante determinada, abracei mesmo a idéia, e, depois que
fiz a inscrição, não hesitei em nenhum momento e me dediquei da melhor forma
que pude. Algumas pessoas me perguntaram por que eu tinha decidido correr uma
prova tão desgastante, que já passa um pouco do limite do saudável. Acho que foi uma mistura de várias coisas: necessidade de
superação, bastante curiosidade de ver como é essa prova tão desejada pelos
corredores, e a vontade de cumprir mais uma etapa.
O que mais me assustava na idéia de
correr a maratona eram os treinos. Achava que iria sofrer demais durantes os
longos e tinha medo disso me desanimar e eu me arrepender. Minha surpresa, ao
longo do treinamento, foi ter tido a sensação exatamente contrária. Os treinos
são difíceis sim, e bastante cansativos, mas, a cada treino, me sentia mais
animada para continuar e já esperava pelo próximo. Segui rigorosamente as
instruções dos meus treinadores, respeitei os treinos, e fui extremamente
assídua. Acho que, por isso, o treinamento evoluiu muito bem, e me senti muito disposta
e motivada durante todo o período. Não achei que iria gostar tanto. Depois do
último treino de 32K, fiquei triste por terem acabado, e já acho que vou sentir
falta dos “longões”.
O meu marido (que é ex-atleta
profissional) sempre me diz que o esporte é baseado em 3 pilares: o
treinamento, a alimentação e o descanso, e que nenhum deles é menos importante
que o outro. Eu não fazia ideia. Fiz a dieta com acompanhamento de uma
nutricionista. Ao contrário do que muita gente pensa, não é por que se treina
muito que se pode comer o que, e quanto quiser. Muito pelo contrário. A dieta é
rigorosa, rica em carboidratos, principalmente antes e após os treinos, e bem
pobre em gordura. No meu caso, foi necessária suplementação nos treinos longos
também (essencial para ajudar na recuperação). Alguns “extras” são permitidos,
mas com muita moderação. E os horários também devem ser respeitados,
alimentando-se a cada 3 horas, do tipo de alimento e quantidade corretos. O
resultado da dieta foi incrível. Só então percebi de fato a importância da
alimentação correta no desempenho e recuperação dos treinos.
O descanso também é essencial, e o
corpo pede. Nesse período, senti necessidade de ficar mais tempo em casa, para
conseguir relaxar e me recuperar bem. Mas, ao contrário do que pensava, não
tive que abrir mão de muita coisa. Continuei encontrando os amigos, fui a
shows, churrascos, e até casamento no dia do treino de 32K. Ou seja,
respeitando o tempo que o corpo pede para se recuperar, é possível conciliar o
treinamento com uma vida social ativa.
Uma coisa que meu marido não colocou
como um dos pilares importantes, mas que para mim foi fundamental, foi o apoio
da minha família e meus amigos. Antes de me inscrever para a prova, conversei
com meu marido, pois sabia que ele teria que ser muito compreensivo com minhas
regras, e se adaptar a algumas coisas da minha rotina. Ele gostou da idéia, me
incentivou, e me ajudou muito durante o todo o período. Minha família e meus
amigos também ficaram muito felizes com a notícia e me apoiaram bastante. Mesmo
quando ouvi a minha mãe me chamar de “doidinha”, depois de contar que tinha
treinado 32K, sabia que no fundo ela estava muito orgulhosa e feliz. A
companhia dos amigos da corrida nos treinos também ajuda demais. Ajuda a
descontrair, fazer o treino passar mais rápido, e tornar todo o processo mais
divertido. Para mim, o apoio e companhia dos amigos e família são tão
importantes quanto o próprio treinamento, e com certeza não teria chegado até
aqui sem isso.
Durante todo o período do
treinamento me senti muito bem física e psicologicamente. Acho que ganhei muita
consciência corporal, e passei a entender como o corpo responde aos treinos,
aos estímulos mais fortes, mais duradouros, à alimentação, e ao descanso. É uma
forma muito interessante de autoconhecimento, e acho que muito do que aprendi
não vale só para treinos para maratona, mas para toda a vida.
A uma semana da prova estou ansiosa,
cansada, mas bem preparada e muito animada! Não sei se vou conseguir terminar,
se vou ficar cansada demais, se vou me divertir, mas, independentemente do
resultado, só a experiência até agora já valeu a pena. Dizem que a parte mais
difícil já foi. Se for verdade, não tenho do que ter medo, e, com certeza vai
dar tudo certo.
Minha meta para o próximo domingo? Aquela sensação de êxtase pós prova,
que só quem corre entende.
Carolina Sobral Singer
12/10/11 (a 5 dias dos 42K)"
6 comentários:
Muito legal a gente poder aqui dar mais um incentivo pra Carol a poucos duas da maratona.
Gostei muito da parte que ela diz que ganhou consciência corporal, o esporte traz mesmo isso pra gente.
Arrebenta na maratona, Carol!!! Boa sorte.
Bruna
Muito legal o relato da Carol! Também estarei lá em Amsterdam!!! O que achei mais legal é que apesar de cada um ter uma trajetória única, individual, todas se parecem em algum ponto. Comecei a correr PORQUE queria completar uma maratona... Tudo invertido, mas foi a minha forma. O que importa de verdade é o compromisso individual de se preparar, de cumprir o cronograma de treinos e descanso. Como a gente melhora no descanso! Li uma vez escrito pelo Drauzio Varela que a maratona , especialmente a segunda metade, não permite improvisos, há que se preparar com afinco.
Essa será a minha quarta maratona, a primeira internacional em dois anos que comecei a correr. Um único conselho: mantenha o ritmo planejado na primeira metade da prova, resista à tentação de forçar. A verdadeira prova começa depois do km 30. Boa corrida!
Muita sorte pra Carolina e pro José Julio também.
Eu ainda sonho com uma prova de 10km e sei que esse dia será muito importante e desafiador. Quando leio o José dizendo que a maratona começa no km 30... Já me cansa! Isso é o triplo do que pretendo correr em 2012 e ainda faltam 12 kms para o final da maratona!
Haja fôlego pra vocês!
Boa corrida para os dois.
Abraço.
Daniel
Legal ver como a Carol foi picada pelo bichinho da corrida, foi evoluindo aos poucos, e agora está pronta pra virar uma Maratonista com “M” maiúsculo...
Dá prá ver como ela levou a sério o desafio, e esta disciplina com certeza paga dividendos... fala-se do muro dos 30k, e quem o “constrói” é a gente mesmo, com alguns longões “matados”, descuido com musculação e nutrição “meia-boca”. Prá Carol, esse muro não vai passar de uma “lombadinha”.
Valeu por compartilhar... e boa sorte em Amsterdã! Estarei torcendo daqui!
Bacana o incentivo de todos vcs para a Carol.
Não será nada fácil mas será recompensante e inesquecível. É sabido que para enfrentar uma maratona é preciso mais que treino. São fundamentais cabeça forte e uma tolerância para a dor. E isso a Carol tem de sobra!
Muito bom saber também que nossa torcida será em dose dupla, pra Carol e para o José Julio!
Queremos o relato dos dois na volta!
Ótima prova aos dois!
Estou na torcida também pela Carol!!! Tomara que ela faça uma maratona sem sustos e que nos conte depois como foi.
E que a temperatura não suba muito... sabemos o quanto o calor atrapalha pra quem corre.
Maria Clara
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